Redução da taxa de juros: como é na prática e como o BOJ tem administrado a sua política monetária

Temos observado nos últimos dias, diversos Bancos Centrais sinalizando e efetuando cortes nas suas respectivas taxas de juros, como forma de estimular a economia em face dos impactos provocados pelo coronavírus.

Mas, afinal, como se dá, na prática, a redução da taxa de juros? Como os bancos centrais administram as taxas de juros em torno das metas estabelecidas?

Quando um BC divulga o corte na taxa de juros, o que ele está fazendo é sinalizando a seus operadores a nova meta de taxa de juros que deve ser seguida.

Com essa meta definida, os operadores do BC iniciam operações de mercado aberto, open market, comprando títulos públicos, privados e mobiliários.

Então, quando acontece a compra desses títulos, o ativo no balanço do BC aumenta. Se o ativo aumenta, o passivo também tem de aumentar. Esse passivo é o dinheiro distribuído aos bancos, gerando liquidez.

Quanto maior a oferta de dinheiro (política monetária expansionista), menor a taxa de juros tende a ficar; quanto menor a oferta de dinheiro (política monetária contracionista), maior a taxa de juros tende a ficar.

A partir daí, os operadores do BC fazem operações no mercado aberto, comprando e vendendo títulos, administrando a liquidez, para que as taxas fiquem próximas da meta estabelecida.

Operações de open market constituem uma das ferramentas de política monetária dos BCs mundo afora; são as mais utilizadas.

Isto é a estrutura, o mecanismo para a redução da taxa de juros, além do simples comunicado feito pelo BC e divulgado pela imprensa.

O BC não imprime dinheiro livremente para distribuir se não houver essa contrapartida de compra de títulos.

Se só imprimir dinheiro e distribuir (como muita gente acredita que é), o BC só estaria aumentando o seu passivo. E em contabilidade, se o passivo aumenta, o ativo também deve aumentar.

Por isso da necessidade de comprar títulos, pois a posse passa a ser um direito do BC, um ativo, enquanto o dinheiro usado para tais compras e, assim, distribuído aos bancos, para estes distribuirem na praça, passa a ser um passivo.

Portanto, não é só impressão e distribuição de dinheiro puro e simples. Tem de haver a compra de títulos como contraparte, para equilibrar o balanço do BC enquanto este aumenta a base monetária.

E isto significa mais liquidez, mais dinheiro para o sistema bancário distribuir a juros baixos, na tentativa de gerar consumo, impulsionar a economia, vencer a deflação.

Como o Banco do Japão tem administrado sua política monetária expansionista na última década?

Da mesma forma como explicado acima, podendo ser observado no Balanço do BOJ (Bank of Japan), na coluna Ativo, nos exemplos abaixo:

Note que, do Balanço divulgado no dia 22 de dezembro de 2010, ano em que o BOJ inicia sua política de expansão monetária atual, ao Balanço divulgado no dia 3 de março de 2020, o BOJ aumentou significativamente a base monetária através de compra de títulos públicos, privados e mobiliários (destacado em verde claro).

Repare no total do ativo (destacado em verde escuro) a evolução em 361,29% de 2010 a 2020, nos referidos Balanços.

É desta forma que o BOJ vem despejando dinheiro na economia japonesa, como parte do programa de expansão monetária, seguido por outros bancos centrais, denominado como Quantitative Easing (flexibilização quantitativa).

E dentre os títulos adquiridos pelo BOJ, destaque para os ETFs de ações que rastreiam os índices NIKKEI 225, TOPIX e JPX 400, no item “Relações de confiança pecuniárias (fundos negociados em bolsa indexados mantidos como propriedade fiduciária)”.

O BOJ tem feito essas compras via bancos fiduciários – joint ventures – bancos formados pelos grandes: MUFG, SMBC, Mizuho, Resona, em parceria com grandes seguradoras.

No comparativo entre os dois Balanços, 12/2010 e 3/2020, o BoJ elevou o volume alocado em ETFs de ações em mais de 200.000%. Então, dentre todos os tipos de títulos e ativos comprados para tentar estimular a economia, através da sua política monetária expansionista, são os que tiveram o maior crescimento no Balanço do BOJ.

Para finalizar, como eu disse na primeira parte deste texto, a posse desses títulos públicos, privados e mobiliários passa a ser um direito do BC, um ativo, enquanto o dinheiro usado para tais compras e, assim, distribuído aos bancos, para estes distribuirem na praça, passa a ser um passivo.

Lembre-se, em contabilidade, se o passivo aumenta, o ativo também deve aumentar, e vice-versa. Veja abaixo a coluna passivo nos dois Balanços do BOJ.

Um abraço,

Marcelo

Marcelo Pimentel

Marcelo Pimentel

CEO da MSG Capital, empresa de participações e gestão de ativos, com foco no desenvolvimento imobiliário. Fundador do site e mídias sociais Investidor no Japão e criador de Cursos de Investimentos e Finanças Pessoais para brasileiros no Japão. Formado em Pedagogia, com Educação Continuada em Contabilidade Financeira e Análise de Viabilidade de Projetos, pela FGV; com MBA em Investimentos e Private Banking, pela Ibmec; Investidor nos mercados de capitais japonês e americano, e no mercado imobiliário brasileiro, com experiência em análise de viabilidade e estruturação financeira de projetos imobiliários.
Marcelo Pimentel

Marcelo Pimentel

CEO da MSG Capital, empresa de participações e gestão de ativos, com foco no desenvolvimento imobiliário. Fundador do site e mídias sociais Investidor no Japão e criador de Cursos de Investimentos e Finanças Pessoais para brasileiros no Japão. Formado em Pedagogia, com Educação Continuada em Contabilidade Financeira e Análise de Viabilidade de Projetos, pela FGV; com MBA em Investimentos e Private Banking, pela Ibmec; Investidor nos mercados de capitais japonês e americano, e no mercado imobiliário brasileiro, com experiência em análise de viabilidade e estruturação financeira de projetos imobiliários.

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