Inflação, alta generalizada dos preços, coisa que nós, brasileiros, sobretudo os que viveram no Brasil até a primeira metade da década de 90 do século passado conhecem bem.
Aliás, não era uma simples inflação, era hiperinflação.
Vamos dar uma olhada nos índices de inflação das principais economias?

Mas analisando a situação do Japão, como pode o país, que depende de importar vários insumos num cenário atual de inflação global e com a moeda desvalorizada, aumentando custo de importação, ter sua inflação oficial abaixo da inflação de outros países?
Vou discutir nos parágrafos abaixo os principais motivos, acompanhe:
A reduflação
Há uma prática disseminada no Japão da chamada reduflação, isto é, em economia, é quando há a redução da quantidade, peso, volume de produtos em supermercados, lojas de conveniência, restaurantes e home centers, sem que haja elevação no “preço de etiqueta” deste produto.
Essa prática, por bastante tempo, ajudou a camuflar o efeito da inflação, mas não a mitigar o principal efeito da inflação: a deteriorização do poder de compra da população.
E como a reduflação reduz o poder de compra?
Ora, se um pacote de pão, por exemplo, com 6 unidades a ¥ 150 passa a ter 5 unidades pelo mesmo preço, o custo de cada unidade sofreu uma alta de 20%; e se uma família, com um pacote de pão com 6 unidades alimentava 6 pessoas, por exemplo, agora terá de buscar alternativas.
Essa questão da reduflação pode parecer coisa boba, mas isso, de forma generalizada, vai corroendo, sorrateiramente, o poder de compra das famílias.
Se essa prática ajuda a camuflar, logo ela contribui para que a inflação oficial não seja tão alta, já que a inflação oficial não mede a reduflação, apenas a alteração no preço de etiqueta de uma cesta de produtos e serviços.
A redução da média salarial e alta de encargos e impostos
O segundo motivo listado seria a redução da média salarial no Japão nos últimos 25 anos, com elevação da taxa média de desconto da Seguridade Social para o trabalhador e e elevação do imposto sobre consumo, fazendo com que a queda da média do salário líquido seja ainda maior e o poder de compra da população fique cada vez mais reduzido.
Veja nos gráficos na sequência:



Essa questão de aumento salarial impacta diretamente na inflação. Veja que nos EUA e na União Europeia, por exemplo, que têm sofrido com a maior inflação nas ultimas décadas, tiveram aumento salarial nas ultimas décadas, diferente do Japão:


A poupança das famílias japonesas
Aumento da poupança das famílias. Ora, se há mais retenção de dinheiro, há menos consumo. Se há menos consumo, não há porque aumentar tanto os preços, mesmo em cenários de inflação global e o Japão tendo de importar muitos insumos com o agravante do iene desvalorizado, o que encarece ainda mais o custo de importação.
Note no gráfico abaixo que a taxa de poupança retida pelas famílias em relação à renda é cada vez maior ao longo dos anos:

A não indexação da economia japonesa
No Japão não há a cultura de indexação da economia, como no Brasil (que justiça seja feita, vem reduzindo).
Isto é, a inflação oficial no Japão não é utilizada para corrigir anualmente salários, aluguéis, emolumentos, contratos diversos etc, como ocorre no Brasil, e isso ajuda a não promover um efeito cascata.
Para finalizar, por mais que a inflação oficial no Japão seja historicamente baixa na comparação com outros países, o principal efeito da inflação, a perda do poder de compra da moeda, continua cada vez maior no Japão, e isso merece atenção por parte de quem vive e tem renda no Japão, e por quem ensina sobre finanças.
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Grande abraço,
Marcelo Pimentel