O mito da deflação sabotando o aumento de salários no Japão

Os parágrafos abaixo tratam-se de um “react” à matéria divulgada pelo portal Investing.com sobre o BOJ descartar retirada do estímulo mesmo após a recuperação da economia do Japão.

Em azul, o texto da matéria na integra; em vermelho, comentário acerca dos principais trechos.

“O Banco do Japão deve manter seu estímulo maciço, mesmo quando a economia se recuperar do impacto da pandemia, disse o membro do conselho Asahi Noguchi, reforçando as expectativas de que o país ficará para trás na retirada de medidas de política do modo de crise.”

O Japão não pode retirar estimulo, aumentar juros, fazer a contração da sua política monetária ultra-froxa, antes, pelo menos, que o FED faça lá nos EUA de forma considerável; e não vai fazer até o Kuroda deixar de ser governador do BOJ. Caso o BOJ opte por retirar seu “estímulo maciço”, corre o risco de os títulos do governo japonês ficarem atrativos, sua demanda aumente, e com isso o iene japonês se aprecie, podendo prejudicar as exportações. O programa de estímulo implementado pelo BOJ há mais de 10 anos tem o objetivo não só de estimular o consumo interno, como foi ajustado após a entrada do Abe ao poder, em 2012, para garantir um iene desvalorizado (leia-se: em patamar acima de ¥ 100/ US$ 1).

“Noguchi parecia cautelosamente otimista sobre a perspectiva econômica do Japão durante um discurso na quinta-feira, dizendo que sua recuperação ficará mais clara a partir do final do ano, com o lançamento de vacinas ajudando a aliviar os efeitos da pandemia COVID-19. Mas a tendência de inflação baixa do Japão significa que a reabertura da economia não deve desencadear o aumento nos salários e na inflação visto em outras nações avançadas, disse ele. “Como resultado, a retirada da flexibilização monetária prestes a ser realizada por outros bancos centrais não será uma opção para o BOJ”, disse Noguchi, considerado um dos defensores de uma flexibilização monetária agressiva no conselho de nove membros.”

A inflação baixa ou deflação no Japão é um mito, pelo menos a que impacta mais a população: a inflação dos alimentos. Na forma clássica de medir inflação até faz sentido, e é a forma clássica e oficial que o governo se pauta. Mas a inflação como perda do poder de compra da moeda é real no Japão, sobretudo quando se tem práticas bem avançadas e sorrateiras de redução de quantidade de produtos, mantendo, no entanto, o preço da composição do produto. Exemplo, pacote de pães que até algum tempo vinha 6 pães por ¥ 198, hoje vem 5 pelos mesmos ¥ 198. Ou seja, alta de 20% no preço da unidade. E isto vem acontecendo com uma série de produtos que compõem o básico na vida cotidiana das famílias no Japão. Até com franguinhos vendidos em caixinhas no Family Mart, está vindo com um a menos! (rs). No Japão tem inflação sim, está destruindo poder de compra das famílias. Não tem na forma tradicional, para os burocratas do BOJ, não tem pela metodologia convencional (variação de preço nas prateleiras), mas tem de forma sorrateira pela redução de quantidade de produtos nos recipientes e embalagens!

“O BOJ pode precisar aumentar o estímulo se a recuperação econômica não aumentar os salários e criar tantos empregos quanto o esperado, disse Noguchi em entrevista coletiva após fazer o discurso. A recuperação econômica do Japão foi liderada por exportações robustas, mas meses de restrições ao coronavírus atingiram a demanda do consumidor, obscurecendo as perspectivas.”

Se depender das grandes empresas japonesas, e até mesmo das médias, que estão encontrando no bem próximo, jovem e barato mercado asiático regional uma população que demanda por seus produtos e serviços, fazendo com que a oferta para este mercado parta de unidades operacionais implantadas em alguns polos fora do Japão, dificilmente haverá aumento de salário, de forma generalizada, para a população no Japão. No entanto, alguns setores, como automotivo, vêm conduzindo aumento no salário/hora de trabalhadores, inclusive para terceirizados.

“Enquanto isso, anos de política ultra-frouxa não conseguiram impulsionar a inflação, já que o consumo fraco impede as empresas de cobrar mais por seus bens e serviços, mantendo a inflação bem abaixo de sua meta de 2%. Noguchi também disse que o banco central “pode ​​não ter escolha” a não ser estender o prazo atual de março para um programa de empréstimo para alívio da pandemia, a menos que fique claro que a atividade econômica retornará aos níveis pré-COVID, acrescentou. “Mesmo que o BOJ acabe com o programa, deve fazê-lo de uma forma que não impeça os esforços para atingir sua meta de inflação de 2%”, disse Noguchi em entrevista coletiva.”

A meta já foi atingida! Olhando pela perspectiva do assalariado, da dona de casa, de quem percebe a inflação sorrateira corroendo poder de compra da população. Além disso, muitos produtos alimentícios que não cabem redução de quantidade em embalagens, como hortaliças, frutas, legumes e carnes, tiveram aumento considerável, sobretudo por causa do custo de importação, com a alta do preço do frete internacional, e foi, sim, repassada ao consumidor, não ficou só no atacado, como no parágrafo abaixo dá a entender:

“A inflação no atacado do Japão atingiu uma alta de 13 anos em setembro com o aumento dos custos de importação, mas analistas duvidam que isso vá provocar um aumento nos preços ao consumidor do Japão. O núcleo da inflação ao consumidor ficou estável em agosto em relação ao ano anterior, reforçando as expectativas de que o BOJ provavelmente manterá a política monetária acomodatícia por algum tempo. “O que é mais notável no discurso de hoje é o fato de que Noguchi sugeriu que o Japão é diferente de outros países que enfrentam inflação crescente”, disse Yoshimasa Maruyama, economista-chefe de mercado da SMBC Nikko Securities.

“É verdade que a inflação global estava na agenda do G20, enquanto o Japão continua atolado na desinflação. Como tal, Noguchi sinalizou que não há necessidade imediata de mudar a política monetária.”

Voltando a parágrafos acima, o discurso oficial de deflação tem servido para justificar o não aumento de salários — necessário, já que o poder de compra da população vem sendo reduzido — e justificar o não investimento por parte das empresas no mercado interno, preferindo investir na expansão para atender o “próximo, jovem e barato mercado asiático”.

Sob uma política denominada controle da curva de rendimento (YCC), o BOJ orienta as taxas de juros de curto prazo em -0,1% e os rendimentos dos títulos de 10 anos em torno de 0%. Também compra títulos do governo e ativos de risco para atingir sua meta de inflação de 2%.”

Aqui, a gente volta no primeiro parágrafo em vermelho, onde menciono porque o Japão não pode fazer a contração da política monetária ultra-froxa. Se não, valoriza o iene e prejudica as exportações.

Matéria do Investing.com:

https://www.investing.com/news/economy/boj-must-keep-easing-to-meet-2-inflation-says-board-member-noguchi-2643383

Marcelo Pimentel

Marcelo Pimentel

CEO da MSG Capital, empresa de participações e gestão de ativos, com foco no desenvolvimento imobiliário. Fundador do site e mídias sociais Investidor no Japão e criador de Cursos de Investimentos e Finanças Pessoais para brasileiros no Japão. Formado em Pedagogia, com Educação Continuada em Contabilidade Financeira e Análise de Viabilidade de Projetos, pela FGV; com MBA em Investimentos e Private Banking, pela Ibmec; Investidor nos mercados de capitais japonês e americano, e no mercado imobiliário brasileiro, com experiência em análise de viabilidade e estruturação financeira de projetos imobiliários.
Marcelo Pimentel

Marcelo Pimentel

CEO da MSG Capital, empresa de participações e gestão de ativos, com foco no desenvolvimento imobiliário. Fundador do site e mídias sociais Investidor no Japão e criador de Cursos de Investimentos e Finanças Pessoais para brasileiros no Japão. Formado em Pedagogia, com Educação Continuada em Contabilidade Financeira e Análise de Viabilidade de Projetos, pela FGV; com MBA em Investimentos e Private Banking, pela Ibmec; Investidor nos mercados de capitais japonês e americano, e no mercado imobiliário brasileiro, com experiência em análise de viabilidade e estruturação financeira de projetos imobiliários.

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