Por Marcelo Pimentel
Aichi, 2025.
Os jornais celebram a eleição da primeira mulher a governar o Japão.
Sanae Takaichi: nacionalista, ultraconservadora, defensora ferrenha da pureza cultural japonesa.
Mas, como sempre, o que você vê não é o que realmente está acontecendo.
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“Acreditem no que digo, mas não notem o que faço”
Essa é uma das leis mais antigas da política moderna.
E ela vale tanto para Washington quanto para Tokyo.
Nos Estados Unidos, os democratas se vendem como o partido da inclusão.
Mas foram justamente eles que deportaram mais imigrantes do que qualquer governo republicano.
Por quê?
Porque o discurso serve para moldar a narrativa, mas as ações reais seguem o imperativo econômico.
E no caso do Japão, o imperativo é brutalmente simples: sem imigração, o país não tem futuro.
A população ativa cai há 30 anos.
O número de idosos explode.
O consumo interno derrete.
E o sistema de previdência social é uma bomba-relógio.
Nenhuma ideologia, por mais nacionalista que seja, sobrevive a isso.
O Japão pode eleger uma premiê ultraconservadora, mas o dinheiro, não o discurso, dita as próximas décadas.
E o dinheiro exige mão de obra e consumo.
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O “balão de ensaio”, tática de manipulação pública
Há poucos meses, o governo testou a temperatura social.
Anunciou, de forma quase provocativa, que cogitava abrir as portas a imigrantes africanos, de países de matrizes tribais e muçulmanos.
A reação foi previsível: protestos, indignação, rejeição.
Mas isso não foi um erro de comunicação.
Foi um balão de ensaio, um movimento de ancoragem.
Funciona assim: primeiro, o governo lança uma ideia extrema e impopular.
A sociedade reage.
Então ele recua, mas mais adiante volta com uma proposta “moderada”.
O resultado?
As pessoas se sentem aliviadas e aceitam o que antes pareceria inaceitável.
Nesse caso, o meio-termo seria a entrada gradual de outras etnias, ou mais das mesmas que já estão no país, com vistos de trabalho temporário e acordos “bilaterais”.
Ou seja, migração disfarçada de cooperação econômica.
E tudo isso com a narrativa perfeita:
“Não é imigração, é integração produtiva.”
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Microtendências, a engenharia cultural da aceitação
Observe o que a mídia japonesa está fazendo.
A SoftBank, uma das maiores empresas do país, tem campanhas publicitárias mostrando o que parece ser uma família mista: mulher japonesa, filha e marido negro, interagindo com a avó japonesa.

Isso não é aleatório.
Isso é engenharia social, a “conta gotas”, visando o longo prazo.
As corporações japonesas estão preparando o terreno psicológico para a transição demográfica.
Elas sabem que a imigração será inevitável, então estão acostumando o olhar do público a um novo tipo de Japão: menos homogêneo, mais globalizado, e portanto mais maleável ao capital internacional.
Quando a SoftBank, a Toyota e a Rakuten passam a vender diversidade, é porque o establishment já entendeu que ela será o novo ativo estratégico da economia.

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O Japão quer parecer fechado (para abrir no momento certo)
O jogo é clássico: manter a fachada conservadora para proteger a coesão interna, enquanto se prepara discretamente para uma mudança estrutural inevitável.
O discurso nacionalista da premiê serve para tranquilizar os eleitores mais velhos, enquanto o país reprograma silenciosamente sua base trabalhista e cultural.
E quando a transição começar, será vendida como “colaboração técnica”, “parceria empresarial”, “treinamento bilateral”.
Mas o resultado será o mesmo: mais imigrantes, mais consumo, mais circulação de capital.
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A previsão que ninguém quer ouvir
Nos próximos 10 a 15 anos, o Japão, o país mais fechado do G7, se tornará um dos mais dependentes da imigração controlada.
Não porque queira, mas porque precisa.
E a elite japonesa já entendeu que a abertura será mais fácil se vier envolta em conservadorismo, disciplina e “planejamento nacional”.
Em outras palavras: eles dirão que estão protegendo a cultura, enquanto abrem o país por dentro.
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O investidor que entender isso primeiro…
O investidor que compreender esse processo de transição demográfica no Japão antes da maioria terá uma das maiores vantagens estratégicas das próximas décadas:
- Setores de moradia, educação e serviços para estrangeiros vão explodir.
- Empresas que atuam com integração internacional e transferência de mão de obra terão margens inéditas.
- Negócios bilaterais entre Japão, Sudeste Asiático e América Latina serão os novos polos de fluxo de capital produtivo.
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Enquanto a população japonesa encolhe, você deve se posicionar onde o capital vai crescer: no fluxo dessa transição INEVITÁVEL.




