Suponhamos que em março de 2014 você visualizou uma grande oportunidade de investir em títulos do Tesouro Direto no Brasil.
Você assistiu a alguns vídeos de youtubers que, provavelmente, na ocasião estavam criticando a poupança, bolsa, ações, imóveis etc. e estavam enaltecendo o investimento em títulos públicos.
Daí você pensou: “por que não enviar dinheiro para o Brasil e aproveitar a nossa taxa Selic brasileira?”
E foi o que você fez.
Pegou aquele seu 1 milhão de ienes que estava guardado sob a tutela do Banco do Brasil em Tokyo, programou aquela “remessa esperta”, com spread de 2 ienes acima da cotação de mercado e pronto, em poucos cliques seu 1 milhão já estava a caminho da sua conta no Brasil.
Em menos de 24 horas seu dinheiro estava lá.
“Quanto mais ou menos?”
A considerar este gráfico de cotação…

… presumo que, com o spread embutido na taxa de conversão praticada pelo BB-Japão e descontado qualquer tarifa, seu 1 milhão, em 5 de março de 2014, tenha chegado na sua conta lá no Brasil algo em torno de 21.700,00 reais.
“Ok!”
Conta na corretora, que é seu agente de custódia ante ao Tesouro Direito, aberta há pouco tempo, você já estava apto a efetuar sua compra de título do tesouro e…
No site da corretora mesmo você efetuou a compra, que seria liquidada alguns poucos dias depois – na época, demorava um pouco para a ordem ser liquidada.
Ordem efetuada, dinheiro alocado na Letra Financeira do Tesouro (LFT), que posteriormente veio a se chamar Tesouro Selic.
Agora era só esperar os juros e o tempo exercerem os seus papeis na rentabilidade do capital (Selic na época estava a 10,75% a.a. e em fase de alta).
5 anos se passaram e seu 1 milhão de ienes, que haviam se tornado naquela época 21.700,00 reais e alocados na LFT…

… isso mesmo: 33.359,68 reias, já descontados as taxas e imposto de renda na fonte. Uma rentabilidade líquida média de 8,97% ao ano (nestes 5 anos, Selic foi a 14,25% a.a. e veio caindo até 6,50%a.a).
“Hum”…
Mas aí você está querendo trazer este dinheiro que rentabilizou lá para cá, para o Japão.
E é neste ponto que você deve considerar o risco cambial. Ou melhor, você já devia ter considerado isto antes de enviar o dinheiro ao Brasil.
E eu estou te oferecendo um exemplo prático, com dados reais, para te esclarecer sobre isto.
Vamos lá…
Você quer resgatar os 33.359,68 que estão no Tesouro e sua corretora não cobra mais taxa de resgate, então é este valor que usaremos para calcular o retorno deste seu capital ao Japão.
Considerando a taxa de câmbio do momento…

… 29,64 ienes por real (na forma BRLJPY, que equivale a 0,03373 reais por iene na forma JPYBRL).
E considerando que você já aprendeu a utilizar o meio mais vantajoso de transferência internacional, que é a transferWise, seus 33.359,68 reais precisarão ser enviados em duas etapas, uma de 30.000,00 reais e a outra de 3.359,00 reais (vou excluir os centavos por causa da calculadora da TransferWise), assim:


Ou seja, aquele 1 milhão de ienes, de cinco anos atrás, que você enviou para o Brasil, a uma determinada taxa de câmbio, para rentabilizar com os juros pagos pelo Tesouro, hoje, resgatados do Brasil para o Japão, sob uma condição de câmbio diferente, vale:
¥ 962.847 ienes
Um prejuízo de ¥ 37.153 mais o custo de oportunidade de 5 anos.
Este é o risco cambial na prática, que deve ser levado em conta na hora de fazer investimentos no Brasil, caso venha a necessitar do dinheiro no Japão.
“Vai ser sempre assim?”
Não! No histórico de conversão das duas moedas, teve momentos favoráveis e desfavoráveis, tanto para transferir dinheiro de lá pra cá, como daqui pra lá.
Mas, você precisa levar o RISCO CAMBIAL a sério ao investir no Brasil. Deve trabalhar com esta realidade, sobretudo quando não sabe se virá a precisar do dinheiro no Japão.
Por isso, é bom investir no Brasil somente aquele capital que pode ficar por lá “ad aeternum”…
Adendo 1: Utilizei o Tesouro Selic (LFT) por ser atrelado à principal referência (benchmark) de rentabilidade do mercado Brasileiro.
Adendo 2: a taxa de conversão da TransferWise é pelo modo JPYBRL, mas no fim das contas o resultado é o mesmo do BRLJPY.
Grande abraço e sabedoria nos seus investimentos!
Marcelo Sávio Pimentel
— Aprenda a investir no Japão, em ativos geradores de renda passiva!