Números da COVID-19 jogam contra a expectativa de retorno a “normalidade”. Esqueça, o mundo não voltará ao normal depois dessa pandemia, acostume-se. O medo de uma segunda onda da peste chinesa ronda, como um espectro, o mundo e os japoneses. Em grande parte, por causa da divulgação de números não relativizados, jogados ao grande público.
No último dia 10 de julho, o Japão havia relaxado a recomendação sobre o número de espectadores em grandes eventos esportivos e shows abertos. Passou a permitir um máximo de 5.000 pessoas, enquanto a capacidade em locais fechados deve ser mantida em 50%.
Na quarta-feira, 22, o governo central disse que vai lançar a Campanha Go To Travel (“Vá Viajar”) para tentar incentivar o turismo doméstico, enquanto o segmento de turismo no país pena com a falta de turistas internacionais – em maio, o Japão registrou a entrada de apenas 1.700 turistas internacionais, contra uma média mensal de 2,5 milhões em 2019.
Apesar dos relaxamentos em algumas medidas, de super pacote econômico, de campanha Go To Travel, os números da COVID-19 na capital Tokyo, o principal termômetro do país, tem preocupado a população japonesa e governadores de províncias, e vem jogando baldes de água fria nessas tentativas de retorno a normalidade e na recuperação econômica.
A capital japonesa registrou uma média de 255 casos de infectados por COVID-19 nos últimos três dias – sexta, sábado e domingo.
A governadora de Tokyo, Yuriko Koike tentou relativizar, dizendo que essa alta ocorre em decorrência do aumento da grande capacidade de teste que vem sendo feito.
É… mas como diz o ditado: “quem vê cara, não vê coração“, ou não quer ver, parar, analisar, ponderar, refletir.
Veja o caso do Brasil, em segundo lugar no número de mortos por COVID-19 no mundo, vem recebendo críticas internacionais por causa dos números da doença (a cara), mesmo que nas entranhas do poder (o coração), nas esferas municipais e estaduais, em muitos casos, existem fortíssimos indícios e casos comprovados de que os números de mortes estão sendo inflados para prefeitos poderem gastar sem licitações, governadores receberem mais verba federal e/ou tentar minar/desgastar o governo federal — lá, COVIDÃO é realidade, como foi mensalão e petrolão.
No caso do Japão, por causa dessas altas em Tokyo, ainda que seja por causa no aumento na capacidade de testagem, pesquisa da Kyodo News (li na Alternativa), aponta que 59% dos japoneses estão descontentes com o jeito Abe de lidar com a pandemia e 66,4% acham que o primeiro-ministro deveria declarar estado de emergência novamente.
E a pesquisa apontou também que 36,4% dos entrevistados acham que as Olimpíadas devem ser adiadas novamente e 33,7% acham que os Jogos Olímpicos devem ser cancelados. Ou seja, se esse percentual tem uma visão negativa em relação às Olimpíadas, que estão agendadas para daqui um ano, com certeza estão contra o Go To Travel que será implementado agora.
Os governadores das províncias do Japão também estão preocupados. Pediram ao governo central que considerasse excluir mais áreas da campanha Go To Travel para impedir a propagação da peste chinesa.
Os números sempre vão impactar mais do que o racional por trás deles. Não adianta considerar que o número de casos só é maior porque se testa mais — quando, vai ver, nem aumentou de fato — ou que os números de mortes podem ser infladas por interesses econômicos, como existem fortíssimos indícios no Brasil.
A massa sempre será impactada por números não relativizados. E a mídia tradicional faz a parte dela também no alarde desses números não relativizados.
E quando números assim são apresentados a uma população que, historicamente, prefere prevenir a remediar, o resultado não é outro. Vão ter medo e rejeitar qualquer relaxamento nas mediadas de combate à doença. Esta aí a resposta para a pergunta: Por que os japoneses estão com medo da segunda onda da COVID-19?
